sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Dança contemporânea: quando "entender" é mais que um plano de aula com equívocos sobre a Arte

Problemático e pouco esclarecedor. O plano de aula abaixo, com o tema "Para entender a dança contemporânea" complica mais do que descomplica, a começar pela defesa das premissas seguintes: 

1. "[...] acabamos por fazer perguntas semelhantes sobre a arte que expressa nossa realidade"; e 
2. "[...] entendendo o que é a dança contemporânea e que retratar o momento que vivemos hoje é uma de suas principais propostas".

Só para sublinhar minha crítica: a arte já parou de se preocupar em "retratar" a realidade desde o início do movimento impressionista (isso já no final do século XIX). "Retratar" qualquer coisa é tarefa reservada na atualidade ao Instagram (mesmo assim, com muita foto retratada de forma manipulada pelos flltros...). Fica a dica: professores de dança, estudem!!! E esqueçam as fórmulas prontas na Internet: elas só servem para casos específicos - isto quando não escamoteiam muitos equívocos.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Homossexualismo e Biopolítica: "O jogo da imitação"

Em 7 de junho de 1954, Alan Turing - matemático, criptoanalista e cientista da computação britânico, suicida-se. Turing foi acusado de crime de prática homossexual, condenado à terapia hormonal obrigatória pelo tribunal inglês para ser curado da homossexualidade. Como efeito do "tratamento", Turing, inventor da "máquina de Turing" - precursora dos computadores, suicida-se.
Turing auxiliou o governo britânico a vencer a 2a Guerra Mundial pela sua invenção que decodificava mensagens criptografadas dos nazistas.
Entretanto, o governo entendeu que Turing era "doente" - e o sentenciou a um tratamento obrigatório que o levou à morte.
Na atualidade, temos no nosso país e no mundo políticos e dirigentes que acreditam no homossexualismo como perversão e/ou doença a ser "tratada" - e ainda um Eduardo Cunha que quer implementar um "Dia do Orgulho Hétero" - como se  heterossexuais sofressem ou já tivessem sofrido historicamente algum tipo de enfrentamento social.
Hoje, no metrô, escuto "pacificamente" e basicamente coagido, uma multidão de heterossexuais felizes cantando com muito afinco "Olha a cabeleira do Zezé...Corta o cabelo dele!", a caminho do bloco carnavalesco. Sinto vontade de chorar.
E a angústia se torna maior ao terminar de assistir "O jogo da imitação" - filme brilhante sobre a história de Alan Turing que, lamentavelmente, só obteve perdão da Rainha da Inglaterra (aquela vaca que nunca sequer lavou um prato na vida e que deveria pedir perdão ao mundo pelos saques, chacinas e escravidão que vitimou povos e nações) no ano de 2013(!!!)...
...E me sinto mais triste pq ainda há os que acreditam que homossexualismo é "opção", safadeza ou algo perverso - e que, sendo assim, eu sou um ser humano "diferente" e que preciso lutar ainda para ter meus direitos como cidadão, indivíduo e sujeito respeitados: para que eu não precise ter o mesmo destino de Turing - além da morte social e política, como querem os dirigentes que buscam me cercear dos meus direitos.
Sinto-me angustiado.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Sobre opinião pública, manipulação mediática e impeachment

Acredito que o texto a seguir seja pertinente para se pensar a respeito da potência da manipulação mediática no contexto atual e a importância que os media ocupam na atualidade, como dispositivos de poder.

O texto foi extraído de: 
SODRÉ, Muniz. Antropológica do espelho: uma teoria da comunicação linear e em rede. 8a.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013, p. 42-44.

Não é nada novo o conceito de opinião pública - produto ideológico da Revolução Francesa. Resultado totalizante das opiniões individuais da cidadania, ele se legitimava como uma espécie de substrato ético e apresentava-se como uma entidade moral e fiscalizadora dos três poderes institucionais da república. Mas só a partir dos anos 1930 no século XX é que os franceses introduzem este conceito no discurso da ciência política, dando margem ao surgimento da medida estatística do substrato coletivo, administrado por institutos de pesquisa. A disseminação dos métodos de modelagem matemática da opinião é, no entanto, um fenômeno norte-americano.
Essa ‘opinião’ é instrumento de um novo regime de visibilidade pública e, portanto, um novo tipo de controle. Tende a não ser mais do que pura imagem ou objeto inexistente: ‘[…] Na realidade, o que existe não é a ‘opinião pública’ ou mesmo ‘a opinião avaliada pelas sondagens de opinião’, mas, de fato, um novo espaço social dominado por um certo número de agentes - profissionais das sondagens, cientistas políticos, conselheiros em comunicação e marketing político, jornalistas, etc. - que utilizam tecnologias modernas como a pesquisa por sondagem, computadores, rádio, televisão, etc.; é através destas que dão existência política autônoma a uma ‘opinião pública’ e, em consequência, transformando profundamente a atividade política tal como é apresentada na televisão e pode ser vivida pelos próprios políticos’ (CHAMPAGNE, Patrick. Formar a opinião - o novo jogo politico. Petrópolis: Vozes, 1988, p.32).
Isso que vem se chamando de ‘novo’ jogo político já existe há bastante tempo.

Há mais de 70 anos, Walter Lippmann, um importante jornalista de seu tempo, em seu livro Public Opinion, desconfiava das afirmações de que os cidadãos baseiam suas decisões políticas e sociais no estudo objetivo dos fatos pertinentes. A maioria das nossas decisões se baseia no que ele chamou de ‘imagens de nossas cabeças’, isto é, percepções e preconceitos estanques. A ideia   de uma opinião pública informada decidindo questões e ações, disse ele, é, em grande parte, uma fantasia desejável; a tarefa de dirigir o país é realizada pelas elites, comenta Dizard (DIZARD, Wilson. A nova mídia - a comunicação de massa na era da informação. Zohar, 1998, p. 51-52).

Isto significa que ‘a opinião pública não existe’, conforme têm sustentado sociólogos como Pierre Bourdieu, Patrick Champagne e outros? O que quer dizer então da convicção de sérios analistas da política norte-americana de que o impeachment do presidente Bill Clinton, em virtude do escândalo sexual com uma estagiária da Casa Branca, teria sido evitado apenas pelo peso da opinião pública? É por demais complexa e obscura a trama dos acontecimentos, mas pode-se levar principalmente em consideração as afirmações de outra linha seria de analistas (dentre as quais a própria primeira-dama do país) no sentido de que a tentativa de impeachment foi de fato um quase golpe de Estado manobrado por facções direitistas. Assim como no caso do termino da guerra do Vietnã, as determinantes do resultado final ocorreram nos bastidores do poder, na forma dos velhos arcana imperii ou segredos de Estado”.